quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Pagador de promessas, Scena 2

Preparar uma apresentação teatral na língua portuguesa foi uma oportunidade única para mim. Admito que nem acreditava que ia conseguir decorar as minhas linhas. Mas com muito, muito pratica e fé (claro que tem que ter muito fé para fazer coisas difíceis), eu consegui decorar as linhas antes de voltar do Thanksgiving Break.

Decorando as linhas foi uma experiência interessante. Perecebi que ao decorar as linhas, eu pude tirar muito significado das palavras e o que elas poderiam estar dizendo. Achei significados que não teria visto se não fosse me coloar na posição do padre.

Tivemos que implementar o "blocking" da scena também. Isso exigiu que pensássemos como se fóssemos os personagens mesmo. Tive que me colocar na cabeça do padre para pensar como ele pensaria, agir como eu acho ele agiria. Eu pessoalmente acabei me sentindo mais simpatia para o padre, finalmente vendo a perspectiva dele e porque ele deve ter ficado tão bravo. Especialmente um padre que leve seu cargo com muito seriedade, ele deve ter ofendido mesmo com as palavras do Zé. Me colocando na sua posição me ajudou a entender como o padre deve ter pensado.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Pagador de promessas: Padre

ZÉ: (Humildemente)
Padre... eu não quis imitar Jesus...

PADRE: (Corta terrível)
Mentira! Eu gravei suas palavras! Você mesmo disse que
prometeu carregar uma cruz tão pesada quanto a de Cristo.

ZÉ: Sim, mas isso...

PADRE: Isso prova que você está sendo submetido a uma tentação ainda
maior.

ZÉ: Qual, Padre?

PADRE: A de igualar-se ao Filho de Deus.
(Dias Gomes, O Pagador de Promessas)

Esta scena entre Zé e Padre encapsula o teatro inteiro. Esta conversa nos mostra porque o teatro existe mesmo. Padre suspeta Zé de estar querendo imitar Jesus, mas Zé é tão ingênuo que nem pensaria nisso. Zé não quer fazer nada disso, ele só quer pagar sua promessa. Mas o fato do líder religioso estar achando culpa num homem inocente como Zé diz algo sobre religião em geral.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Pagador de promessas: Rosa nos dá o título

ROSA: Que é que você está procurando?

ZÉ: Qualquer coisa escrita... pra a gente saber se essa é mesmo a
igreja de Santa Bárbara.

ROSA: E você já viu igreja com letreiro na porta, homem?

ZÉ: É que pode não ser essa...

ROSA: Claro que é essa. Não lembra o que o vigário disse? Uma igreja
pequena, numa praça, perto duma ladeira...

ZÉ:
(Corre os olhos em volta)
Se a gente pudesse perguntar a alguém...

ROSA: Essa hora está todo o mundo dormindo.
(Olha-o quase com raiva).
Todo o mundo... menos eu, que tive a infelicidade de me casar
com um pagador de promessas.

(Dias Gomes, O Pagador de Promessas)

Esta scena mostra quem realmente são Zé e Rosa. Zé parece ingênuo, ele tem tanto confiança na promessa que ele tem feito e que tudo dará certo. Rosa é mais realistica, ela vê as coisas como são e quer ajudar Zé a entender que o que ele está vendo não vale a pena. Rosa descreve a igreja aqui, que ajuda o leitor a ver como seria tudo na scena.

Zé inocentemente quer perguntar a alguém da igreja para cumprir a sua promessa, mas Rosa acha que vê algo que Zé não enxerga. O que enfatiza mais o significado aqui é a última linha, as palavras de Rosa: "eu, que tive a infelicidade de me casar com um pagador de promessas." Ela refere a Zé de um pagador de promessas, que é o título do livro. Ele é um pagador de promessas porque ele está pagando a promessa dele á igreja.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

O Pagador de Promessas: Imitar Jesus

PADRE: Não vai pretender ser olhado como um novo Cristo?

ZÉ: Eu?!

PADRE: Sim, você. Você que acaba de repetir a via crucis, sofrendo o martírio de Jesus. Você que, presunçosamente, pretende imitar o Filho de Deus...

ZÉ (Humildemente): Padre, eu não quis imitar Jesus!

PADRE: Mentira! Eu gravei suas palavras! Você mesmo disse que prometeu carregar uma cruz tão pesada quanto a de Cristo.

ZÉ: Sim, mas isso...

PADRE: Isso prova que você está sendo submetido a uma tentação ainda maior.

ZÉ: Qual, Padre?

PADRE: A de igualar-se ao Filho de Deus. (Dias Gomes, O Pagador de Promessas, pgs. 74-75).

Dias Gomes aqui está atacando religião em geral, aqui ele utiliza o personagem do padre. O padre está jogando palavras na boca do Zé, dizendo que ele quer dizer uma coisa ao carregar a cruz enquanto Zé não quer dizer nada disso. Ele diz que o que Zé diz é "mentira" e diz que isso "prova que [Zé] está sendo submetido a uma tentação ainda maior." O Padre de uma igreja não deveria ser a primeira pessoa para acreditar as palavras de um pobre homem que acabou de carregar uma cruz para "setenta léguas"?

O Padre também diz que o Zé está tentando se-comparar a Jesus Cristo. Isso é simbólico de errors da igreja. Gomes quer dizer que a religião e os líderes religiosos têm falhas e não são perfeitos. Eles podem errar, como o padre aqui acusou Zé de blasfemar a agir como ele agiu.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Autopsicografia

"Autopsicografia"

O poeta é um fingador.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só que éles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão
Ésse comboio de corda
Que se chama o coração.
(Fernando Pessoa, Autopsicografia, pg. 165)

Esse poema talvez seja um dos poemas mais profundas que já compreendi. Quando o li pela primeira vez, não entendi absolutamente nada. Não sabia o que Pessoa queria dizer, e não achei que eu poderia entender. Mas ao conversamos em sala de aula sobre isso e realmente entrar no poema e ver o que Pessoa quer ilustrar ao leitor aqui, eu sinto como se uma janela tivesse se aberto para mim.

O poeta é um fingador, um ator que pinta uma imagem para o leitor que não existe. O leitor acha novas verdades que o escritor nem conheceu nunca.
O poeta faz com que o leitor sinta algo que o poeta nem sentiu na sua vida.
Pois o poeta talvez nem conheça a dor direito.
Mas ele escreve para fingir que a conhece.

O poeta escreve palavras lindas para descrever as emoções que são impossíveis a entender. O amor, o medo, o ódio, os sentimentos que temos que nem sabemos o que são. O poeta faz tudo isso.
Portanto, no final do dia, o poeta tem conseguido convencer o leitor que tem sentimentos que não há.
Que talvez nem existam.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Ser poeta

Ser poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!



É ter de mil desejos o esplendos
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!



É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
É condensar o mundo num só grito!



E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente! (Florbela Espanca, Ser poeta, pg. 352)

Esse poema é mais que profundo. Espanca usa muitas metáforas aqui para descrever como é ser poeta. Não é como ter fome...é ter fome. Não age como algo, é algo. Ele utiliza o verbo "ser" no sentido mais literal para criar uma conexão entre ser poeta e o mundo familiar que todos conhecemos.

Como é quase uma tarefa impossível descrever de verdade como é ser um poeta, Espanca também utiliza a scema de rimar para enfatizar a impossibiidade de descrever como é ser poeta e criar poesia que muda a mente das pessoas.
Adoro os primeiros versos, a primeira linha: "Ser poeta é ser mais alto, é ser maior / Do que os homens!" Ser poeta não é ser um ser humano normal como qualquer outro, mais alguém que conhece o mundo por uma perspective completamente diferente.

sábado, 15 de outubro de 2016

If It's Square, It's a Sonnet: O Soneto é Curto.

One of the old French philosophers and wits, Blaise Pascal, apologized for writing a long letter, saying, "I had not time to write a short one." (Thomas C. Foster, How to Read Literature like a Professor, pg. 27)

É facil escrever algo longo e cumprido, anotando todos os pensamentos que vêm à cabeça e entram na sua mente. É difícil pegar os seus pensamentos e forçá-los a caber em um espaço pequeno. Acontece que um soneto é um "espaço pequeno". Por esse motivo mesmo que a forma importa tanto, porque a maneira que escrevemos arte pode fazer toda a diferença ao leitor e na maneira que ele interpreta a sua escrita.

Um soneto é curto, e exige forma. Por isso que o soneto é tão lindo; quando o lê, vê que tem exigido muito pensamento, muita paciência e muito ponderar em como rimar os fins das linhas. Escrever also cumprido pode ser rápido, porque você não tem que pensar em como cortar as suas frases e linhas. Mas fazer algo curto exige mais tempo. A forma define o soneto, ao fazê-lo bom ou ruim.